Quando a amizade também compartilha os projetos de casa

Em 2010, realizei um pré-cadastro para a compra de um apartamento, na Barra Funda, em São Paulo, pois de imediato me encantei pela planta, achei a localização ideal e o preço bastante atrativo. Chegado o dia de visitar o lançamento do empreendimento, liguei para o André, amigo de longa data, e sugeri que ele conhecesse o edifício, fizesse também o cadastro e quem sabe adquirisse o apartamento no andar abaixo do meu. Foi assim que nossa amizade ganhou um novo capítulo: o projeto de lar começando simultaneamente, eu no 23° andar e ele no 22°. 

Nossa prioridade inicial era otimizar os espaços. Por isso, o primeiro passo foi pedir com antecedência à construtora que eliminasse a parede entre a sala de jantar e a cozinha. Depois, já com as chaves em mãos, solicitamos autorização para retirar as portas de correr entre os dois ambientes o que nos rendeu mais alguns centímetros. Além disso, foi feito o nivelamento dos pisos da sala e varanda e a retirada da alvenaria lateral. A varanda, inclusive, era muito grande comparada a sala, por isso, optamos pela integração também desses ambientes, criando uma ampla área social.

Embora as plantas sejam idênticas, soluções em marcenaria, revestimentos, texturas e cores foram os responsáveis por personalizar os apartamentos, incorporando a cada um a identidade do dono.  Trocamos experiência e fizemos a compra de materiais juntos, o que fez de todo o processo ainda mais especial.

Projetar para mim mesma foi prazeroso e desafiador. Entre as muitas decisões, era preciso escolher um piso mais durável, versátil e fácil de limpar, já que dividiria meu primeiro apartamento com um morador muito especial, meu cãopanheiro Nico. Por isso, o porcelanato que imita madeira foi o revestimento escolhido para todos os ambientes, com exceção do banheiro.   André, que também contava com a companhia de seu simpático cão Madruga, optou pelo porcelanato com visual de concreto. 

Sou adepta do estilo mais clean e minimalista, por isso priorizei materiais claros e práticos, com a predominância do branco em quase todos os ambientes. Isso, unido a integração de sala, varanda e cozinha, trouxe para o espaço de convivência mais luminosidade e sensação de amplitude.

A estante multiuso, de laca branco e folha de nogueira natural, comporta livros, objetos decorativos, louças, além de esconder o shaft de água pluvial do prédio. O cavalinho ao lado do sofá foi restaurado e resgata uma importante memória afetiva, pois me acompanha desde as brincadeiras de infância.    

Já na sala de estar do André, um inveterado apaixonado por música e cinema, a estante também em marcenaria foi pensada para acomodar suas coleções de CDs e DVDs. O mix de materiais é complementado com os tijolinhos aparentes na parede, o que deu ao ambiente um ar descontraído. 

 

Na área da cozinha, optei por bancada de argamassa armada construída na obra, enquanto André escolheu a bancada móvel com rodinhas que facilitam a troca de lugar sempre que necessário.   

Muitas coisas se passaram desde que um dos meus melhores amigos e eu projetamos juntos nossos apartamentos. A mais importante delas, acredito, é o fato de que eles se tornaram pano de fundo para muitas de nossas memórias. Praticamos novas receitas, brincamos com nossos cães, recebemos pessoas queridas e reaprendemos a passar mais tempo em casa.

De certa forma, os apartamentos em si passaram a fazer parte da nossa memória afetiva e, mais importante, compartilhada.  Para minha sorte, a amizade ganhou um novo capítulo, escrito com o alicerce de casa.  

Por: Beatriz Ottaiano

Fotos: Evelyn Muller e acervo pessoal  

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